O
Amor e a Decepção
Navegando em
redes sociais; no fim de relacionamentos amorosos, duradouros ou não; no fim de
amizades; no rompimento de contratos; enfim, em vários momentos da vida,
encontramos uma declaração de quem sofreu com um rompimento na relação com
alguém: estou decepcionado.
A decepção é um
dos traumas mais fortes ao ser humano, porque vai de encontro com as convicções
que um indivíduo tem. A decepção provoca um sentimento terrível de traição, de
instabilidade, de insegurança. É como acreditar viver no paraíso e descobrir
que na verdade esse lugar extraordinário está cercado por um labirinto
assustador, sombrio e misterioso. A decepção nos dá o choque de quem se
permitiu acreditar e viu-se diante de uma mentira.
Entretanto,
podemos nos aprofundar no que realmente significa a decepção.
A palavra
decepção tem origem no latim, e quer dizer engano, desilusão. Acredito que
desilusão é o melhor significado, e encontramos nele muitas variáveis com
relação ao que permite que ela ocorra.
Desilusão é a
quebra de uma ilusão, que consiste na criação de um cenário, objeto, ambiente,
situação ou crença que estão fora da realidade, mas em que o iludido acredita
cegamente. E aqui encontramos um erro comum em diversas pessoas e relacionamentos:
a pessoa se permite acreditar numa ilusão criada por ela mesma, extingue a
ideia de que o outro pode errar, e por tal erro desumano, acaba sendo castigado
pelos próprios sentimentos de traição.
Desumano em
dois sentidos: do iludido e do objeto de sua ilusão. A pessoa é injusta consigo
mesma, criando uma expectativa suicida, improvável e sem critérios, de que o
outro é um ser perfeito, praticamente um deus, pondo-se assim numa ocasião de
risco, que poderá lhe trazer dor. E ela é ainda mais injusta com a outra
pessoa, pois exige dela algo que não exige de si mesma: a perfeição. Exige que
ela seja exatamente alguém que está em sua mente, e não quem realmente é. Exige
que ela adivinhe seus desejos, seus sonhos, suas vontades.
Quando a pessoa
objeto de ilusão comete um erro, a pessoa iludida acaba se decepcionando e
estranhando aquele erro. Afinal de contas, não existe sonho com defeitos. Quem
pretende comprar um carro, não imagina o seu carro com arranhões, furos no
pneu, bateria descarregada, ou quaisquer problemas que um carro possa ter.
Muito pelo contrário, imagina o seu carro com tudo aquilo que seja possível ter,
e tudo funcionando perfeitamente.
Quem se ilude
não dá espaços para erros. Não dá espaço para imperfeições. Não dá espaço para
si mesmo ser feliz.
O problema é:
como não se iludir? Como saber quando é amor ou quando é ilusão?
Infelizmente, a
ilusão e o amor podem estar juntos. A diferença é que a ilusão quando acaba não
tem volta. Já o amor, por mais que aconteça algo que gere uma decepção, sempre
haverá espaço para o perdão, para se tentar novamente.
O problema
disso tudo é que ninguém escolhe simplesmente se iludir, porque a ilusão está
mais ligada ao sentimento e ao subconsciente do que a inteligência, lógica ou
raciocínio.
A decepção tem
seu território formado por tudo aquilo que há de melhor na vida. Nem sequer
percebemos o erro que estamos cometendo, e tão pouco poderíamos imaginar que
nossa confiança seria o buraco de uma angústia profunda.
Tenho plena certeza
que quem já amou um dia sabe bem do que eu estou falando.
Eu estou
falando daquele jeito de andar, sorrir, de movimentar as mãos, de bocejar, e
até mesmo de espirrar que te encanta naquela pessoa que você vê entrando no
mais íntimo sentimento, no mais complexo pensamento que tenha. Estou falando
daquela pessoa que não precisou de muito para te convencer de que ela é
diferente das demais. Daquela pessoa que até mesmo numa foto te deixa com cara
de bobo. Um ser quase que angelical, que sabe dizer o que você precisa ouvir, e
por sinal, que voz linda ela tem. O perfume difícil de esquecer, e fácil de ser
notado, que quando percebido te faz dominar-se por um mix de ansiedade,
nervosismo, medo, felicidade, paz e satisfação. Aquela pessoa que possui uma
inteligência impressionante, que sabe falar de tudo e é madura, mas que não
deixou de ser criança.
Enfim, estou
falando daquela pessoa que nós acreditamos que será para nós tudo ou mais do
que o que imaginamos, sonhamos, queremos.
O que eu quero
deixar claro é que, a decepção, nem sempre possui motivo para existir. As
pessoas são fracas, têm dificuldades, problemas, desilusões. Então, mesmo que
alguém se esforce o máximo que possa, ela nunca será perfeita.
Talvez por isso
demoramos tanto para encontrar alguém interessante como queremos: procuramos
pessoas perfeitas. Procuramos pessoas que não existem. Queremos amar qualidade
e não entendemos que o amor de verdade por alguém só existe quando amamos os
seus defeitos. O amor sempre será incondicional. Não existe outra forma de
amar. Não que seja sincero e verdadeiro.
O amor é
admirar o esforço para se romper dificuldades no outro. É sentir o quanto ele
sofre e entender porque às vezes comete erros. O amor é se preocupar mais com o
outro do que consigo mesmo. O amor é chorar quando o outro sofre, é sorrir em
ver o outro bem, é ser feliz pelo simples fato de estar ao seu lado.
O amor é o
sentimento mais bonito que existe. Por isso, não podemos ter medo de nos
decepcionarmos, apenas aprender à entender porque nos decepcionamos, e lembrar
que aquela pessoa imperfeita, pode ser quem vai estar sempre do seu lado,
aconteça o que acontecer.
Ninguém precisa
de outra pessoa para viver, mas não existe sobreviver sem um amor de verdade.
Quem ama de verdade não ama porque precisa, e sim porque sabe que aquele alguém
será capaz de errar, mas que ao seu lado juntos se ajudarão a ser alguém
melhor.