sábado, 1 de setembro de 2012

O Amor e a Decepção




O Amor e a Decepção

Navegando em redes sociais; no fim de relacionamentos amorosos, duradouros ou não; no fim de amizades; no rompimento de contratos; enfim, em vários momentos da vida, encontramos uma declaração de quem sofreu com um rompimento na relação com alguém: estou decepcionado.

A decepção é um dos traumas mais fortes ao ser humano, porque vai de encontro com as convicções que um indivíduo tem. A decepção provoca um sentimento terrível de traição, de instabilidade, de insegurança. É como acreditar viver no paraíso e descobrir que na verdade esse lugar extraordinário está cercado por um labirinto assustador, sombrio e misterioso. A decepção nos dá o choque de quem se permitiu acreditar e viu-se diante de uma mentira.

Entretanto, podemos nos aprofundar no que realmente significa a decepção.

A palavra decepção tem origem no latim, e quer dizer engano, desilusão. Acredito que desilusão é o melhor significado, e encontramos nele muitas variáveis com relação ao que permite que ela ocorra.

Desilusão é a quebra de uma ilusão, que consiste na criação de um cenário, objeto, ambiente, situação ou crença que estão fora da realidade, mas em que o iludido acredita cegamente. E aqui encontramos um erro comum em diversas pessoas e relacionamentos: a pessoa se permite acreditar numa ilusão criada por ela mesma, extingue a ideia de que o outro pode errar, e por tal erro desumano, acaba sendo castigado pelos próprios sentimentos de traição.

Desumano em dois sentidos: do iludido e do objeto de sua ilusão. A pessoa é injusta consigo mesma, criando uma expectativa suicida, improvável e sem critérios, de que o outro é um ser perfeito, praticamente um deus, pondo-se assim numa ocasião de risco, que poderá lhe trazer dor. E ela é ainda mais injusta com a outra pessoa, pois exige dela algo que não exige de si mesma: a perfeição. Exige que ela seja exatamente alguém que está em sua mente, e não quem realmente é. Exige que ela adivinhe seus desejos, seus sonhos, suas vontades.

Quando a pessoa objeto de ilusão comete um erro, a pessoa iludida acaba se decepcionando e estranhando aquele erro. Afinal de contas, não existe sonho com defeitos. Quem pretende comprar um carro, não imagina o seu carro com arranhões, furos no pneu, bateria descarregada, ou quaisquer problemas que um carro possa ter. Muito pelo contrário, imagina o seu carro com tudo aquilo que seja possível ter, e tudo funcionando perfeitamente.

Quem se ilude não dá espaços para erros. Não dá espaço para imperfeições. Não dá espaço para si mesmo ser feliz.

O problema é: como não se iludir? Como saber quando é amor ou quando é ilusão?

Infelizmente, a ilusão e o amor podem estar juntos. A diferença é que a ilusão quando acaba não tem volta. Já o amor, por mais que aconteça algo que gere uma decepção, sempre haverá espaço para o perdão, para se tentar novamente.

O problema disso tudo é que ninguém escolhe simplesmente se iludir, porque a ilusão está mais ligada ao sentimento e ao subconsciente do que a inteligência, lógica ou raciocínio.

A decepção tem seu território formado por tudo aquilo que há de melhor na vida. Nem sequer percebemos o erro que estamos cometendo, e tão pouco poderíamos imaginar que nossa confiança seria o buraco de uma angústia profunda.

Tenho plena certeza que quem já amou um dia sabe bem do que eu estou falando.

Eu estou falando daquele jeito de andar, sorrir, de movimentar as mãos, de bocejar, e até mesmo de espirrar que te encanta naquela pessoa que você vê entrando no mais íntimo sentimento, no mais complexo pensamento que tenha. Estou falando daquela pessoa que não precisou de muito para te convencer de que ela é diferente das demais. Daquela pessoa que até mesmo numa foto te deixa com cara de bobo. Um ser quase que angelical, que sabe dizer o que você precisa ouvir, e por sinal, que voz linda ela tem. O perfume difícil de esquecer, e fácil de ser notado, que quando percebido te faz dominar-se por um mix de ansiedade, nervosismo, medo, felicidade, paz e satisfação. Aquela pessoa que possui uma inteligência impressionante, que sabe falar de tudo e é madura, mas que não deixou de ser criança.

Enfim, estou falando daquela pessoa que nós acreditamos que será para nós tudo ou mais do que o que imaginamos, sonhamos, queremos.

O que eu quero deixar claro é que, a decepção, nem sempre possui motivo para existir. As pessoas são fracas, têm dificuldades, problemas, desilusões. Então, mesmo que alguém se esforce o máximo que possa, ela nunca será perfeita.

Talvez por isso demoramos tanto para encontrar alguém interessante como queremos: procuramos pessoas perfeitas. Procuramos pessoas que não existem. Queremos amar qualidade e não entendemos que o amor de verdade por alguém só existe quando amamos os seus defeitos. O amor sempre será incondicional. Não existe outra forma de amar. Não que seja sincero e verdadeiro.

O amor é admirar o esforço para se romper dificuldades no outro. É sentir o quanto ele sofre e entender porque às vezes comete erros. O amor é se preocupar mais com o outro do que consigo mesmo. O amor é chorar quando o outro sofre, é sorrir em ver o outro bem, é ser feliz pelo simples fato de estar ao seu lado.

O amor é o sentimento mais bonito que existe. Por isso, não podemos ter medo de nos decepcionarmos, apenas aprender à entender porque nos decepcionamos, e lembrar que aquela pessoa imperfeita, pode ser quem vai estar sempre do seu lado, aconteça o que acontecer.

Ninguém precisa de outra pessoa para viver, mas não existe sobreviver sem um amor de verdade. Quem ama de verdade não ama porque precisa, e sim porque sabe que aquele alguém será capaz de errar, mas que ao seu lado juntos se ajudarão a ser alguém melhor.


por César Fonseca