sábado, 27 de outubro de 2012

Quando tudo acaba... mas o amor não vai na mala



Quando tudo acaba... mas o amor não vai na mala

Tudo o que faz parte da nossa vida acaba fazendo parte de nós também. E é isso o que acontece quando estamos em um relacionamento. Nós nos apegamos a pequenas coisas como fazer ou receber ligações durante a noite, simplesmente para confessar: “Te amo! Queria muito que estivesse aqui agora”. Ou, acordamos pela noite e ficamos vendo-a dormir, pensando no quanto somos sortudos por estar ao seu lado. A vida passa, e nem sempre temos escolha sobre como será o amanhã. Infelizmente, quando mais dependemos dessa pessoa, tudo acaba.

A casa parece enorme. Não conseguimos dormir a noite. Ela não está aqui. Dormir parece não ter sentido. Olhamos o celular para conferir se temos alguma mensagem ou ligação perdida, mas no fundo nós sabemos que ela não vai mandar mensagem alguma, tão pouco ligar. Que vazio gigantesco no peito. Chega a doer fisicamente. Antes a falta de um braço ou uma perna a perder o conteúdo mais precioso do nosso coração: a pessoa amada.

Os dias demoram a passar. Nossos Hobbies já não têm graça. Nossos erros e teimosias nos fazem sentir a consciência pesar: “foi por causa dessas besteiras que a perdi?”. Ah, se arrependimento matasse...  o pior é que não mata.

A nossa emoção nos domina quase que por completo. Amigos e parentes tentam nos ajudar. É impossível não ver a nossa dor. Para quem ainda não sabe o que aconteceu poucas palavras bastam para compreenderem a razão de tal sofrimento.

O pouco da razão que temos nos diz que precisamos continuar o nosso caminho. Essa pessoa não é o motivo da nossa vida, não morreremos sem ela, mas sabemos como tudo seria melhor se ela estivesse aqui. Por dentro estamos mortos, e um corpo vazio é o que se vê em nosso semblante. Nossos planos, sonhos, idealizações e realizações tinham o nome dela no projeto ou resultado. Nossa inspiração para fazer tudo acontecer.

O tempo que era dela nós usamos agora para recalcular as coordenadas do nosso destino. É preciso viver. É preciso saber que o ter é um dom divino e a perda uma tragédia natural e inevitável.

Durante muito tempo nos pegamos chorando, como um dependente químico que sente falta daquele prazer, daquele sonho, da nossa fuga da realidade. Entretanto, chega o momento de nossa reabilitação, e nada como um banho de realidade para começar: “sim, realmente foi muito bom enquanto durou, mas agora acabou, e a vida continua”.

Não queremos e nem precisamos esquecer os momentos bons. Fazem parte da nossa história. Ainda fazem parte de quem somos. Todavia, o passado não deve ser o presente para que não percamos a chance de um futuro melhor. Ainda existem pessoas que precisam de nós e querem nos ver bem, e por elas que vale apena travar esta difícil batalha.

O tempo passa e percebemos que a vida tem muito mais a nos oferecer do que imaginávamos. Novos amigos, novos momentos inesquecíveis. É quando o passado fica onde deve estar e nos permitimos ser feliz. Conheceremos outras pessoas, por quem iremos nos encantar novamente - desde que não coloquemos obstáculos, é claro.

Teremos em nossa vida a marca da experiência e saberemos como fazer o novo amor valer apena e prosperar. Não cometeremos os mesmos erros. A felicidade voltara para casa, e chegaremos a acreditar que as nossas lágrimas, os nossos erros, o nosso passado, serviram para nos preparar para quem realmente merece o nosso amor.

Em algum tempo, estaremos rindo, lembrando-nos do quanto ficamos desesperados e perdidos. Entenderemos, finalmente, que o destino prega peças para amadurecermos e darmos valor a vida e por isso que quando tudo acaba, e ela vai embora, nunca levará consigo o nosso amor em sua mala, pois é ele quem nos ensinará a viver e sermos felizes, quiçá para todo sempre.

César Fonseca

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Quando não somos aquilo que o outro procura



Quando não somos aquilo que o outro procura

Encontrar alguém especial, que faça reluzir em nós aquele brilho do encanto, não é fácil. Como se isso não bastasse, ainda estamos sujeitos a outra dificuldade: quando não somos aquilo que o outro procura.

Sinceramente, não há nada pior do que encontrar alguém que nos desperte os mais fortes sentimentos, domine a nossa razão, prenda o nosso olhar e roube nossa admiração, sem deixar a mínima esperança de reciprocidade. Digo com toda a certeza: dói mil vezes mais do que não encontrá-la.

As nossas convicções se tornam apenas um cenário colorido de uma peça de teatro, que possui momentos deslumbrantes, mas que por fim terá sempre o mesmo desfecho: as cortinas se fecham, a platéia vai embora, as luzes se apagam, e cá estamos no escuro, esperando a peça novamente começar.

Será em muitas vezes como uma amizade, daquelas que nunca terá fim. Amigos para sempre. Para todos os momentos. Principalmente para se falar de relacionamento. Casos, namoricos, paixões. E nós ouvimos a tudo atentamente. Sorrimos e procuramos aconselhar. Afinal, somos amigos, o que mais poderíamos fazer? O problema é que em nosso interior, sentimos fortes tempestades de sentimentos clamando para chover boca afora.

Entretanto, é tão bom tê-la por perto. Não podemos correr o risco de perder os momentos de convívio. Os abraços. O carinho gostoso no cabelo. Ou, aquela conversa por MSN que às vezes consome nosso dia inteiro e nem percebemos. E a explicação de tudo isso? Claro, tinha que sobrar, como sempre, para o tal do amor.

É ele que nos permite fazer loucuras por alguém que talvez nunca verá nosso esforço. Nunca reconhecerá nosso zelo para vê-lo bem. Porém, não deixamos de fazê-lo.

Em tempos, a dor aperta um pouco e sumimos por alguns dias. Inventamos uma desculpa qualquer. No fundo, estávamos recarregando as energias para o coração aguentar firme e forte esse sentimento que se espalha por todo o nosso ser e viver.

Queríamos conquistar, por um momento que seja, a atenção, o carinho e admiração dessa pessoa querida. Mas é como se fossemos pessoas neutras, incapazes de algo mais, de uma participação maior na vida desta.

Ficamos à espreita de uma oportunidade para se declarar, e quando essa aparece, com muito jeito perguntamos:

“E... eu? Você... não se vê comigo?”

Quase que sem levar a sério, e esperando que façamos o mesmo, a pessoa responde:

“Mas oras, claro que não, afinal de contas somos amigos.”

Desconcertados, e para não perder a prosa, dizemos algo para despistar:

“Ainda bem que não me apaixonei por alguém como você, imagina que tristeza ouvir isso”

Aproveitando a oportunidade, melhor não deixar dúvidas:

“Realmente, nada pior do que se apaixonar por alguém quando não somos aquilo que ela procura.”

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Amor em noite de inverno



Amor em noite de inverno

Sinto a temperatura amena do contraste entre o calor de tua presença e o frescor do inverno.

Um belo dia em que mergulhamos em risos e momentos de felicidade, enquanto o sol nos aplaudia distante na plateia, trouxe-nos a esse quarto como duas pobres vítimas de uma feroz alcateia de sentimentos. Nossos olhares dispensavam palavras a serem ditas. Nossas mãos unidas demonstravam a tranquilidade que nos unia e o nervosismo da presunção do que poderia se suceder. Teus lábios me recitavam poesias, cantavam-me cantigas, enquanto tocavam aos meus. Teus gemidos de prazer rompiam o silêncio mesmo sem o teu consentimento. Entendiam que para mim tua sinceridade faria soar campainhas alertando meu corpo a corresponder. Eu te sentia presa a mim como se fortes correntes nos entrelaçassem.

Ao se aproximar ainda mais, senti seu corpo unir-se ao meu, e confesso que minha consciência desapareceu, quando senti nossos corações no mesmo ritmo bater. Era como se um único coração habitasse nossos corpos.

Nossos movimentos, agora já intensos, pareciam seguir um roteiro pré-determinado, de toques e passos, que teriam o mesmo destino. Como um menino, vi-me maravilhado, seguindo a cada instante o acaso, desejando-o sem titubear, apaixonado pelo perigo.

Tua beleza me encantava, mas eu já não te via, a noite já caíra e só sua alma eu podia ver. No entanto, era tudo o que eu queria. Por todo o mundo eu te procurei, e a Deus agradeço porque te encontrei. Não se tratava de cabelos loiros ou morenos, olhos claros ou olhos negros, muito menos seu tom de pele, pois era seu amor e carinho que sempre pedia em minhas preces.

Entretanto, quando as nuvens abriram fresta e um clarão entrou pela janela, deslumbrei-me com o que ela veio me presentear: eram aqueles olhos apaixonados que fixamente me olhavam, enquanto tuas mãos a meu rosto acariciavam, domando-me qual selvagem fera, envolto por sua meiga serenidade, seu charmoso carinho, esse seu lindo jeitinho de me dar seu amor.

Inevitável beijo, molhado aos lábios, empírico ao coração. Forte e gélido arrepio, emocionante adrenalina da pacífica e devastadora paixão.

Abri os olhos sem poder evitar um sorriso, não fora um sonho, ao meu lado eu ainda te via dormindo, e te olhando relembrei cada instante. Fora uma noite longa, e enquanto te vi descansar, pude perceber o verdadeiro sentido de amar, e o quanto este será eterno desde que um ao outro sempre saiba valorizar.


César Fonseca