Quando tudo acaba... mas o amor não vai
na mala
Tudo o que faz parte da nossa vida acaba fazendo parte de nós também. E é
isso o que acontece quando estamos em um relacionamento. Nós nos apegamos a
pequenas coisas como fazer ou receber ligações durante a noite, simplesmente
para confessar: “Te amo! Queria muito que estivesse aqui agora”. Ou, acordamos
pela noite e ficamos vendo-a dormir, pensando no quanto somos sortudos por
estar ao seu lado. A vida passa, e nem sempre temos escolha sobre como será o
amanhã. Infelizmente, quando mais dependemos dessa pessoa, tudo acaba.
A casa parece enorme. Não conseguimos dormir a noite. Ela não está aqui.
Dormir parece não ter sentido. Olhamos o celular para conferir se temos alguma
mensagem ou ligação perdida, mas no fundo nós sabemos que ela não vai mandar
mensagem alguma, tão pouco ligar. Que vazio gigantesco no peito. Chega a doer
fisicamente. Antes a falta de um braço ou uma perna a perder o conteúdo mais
precioso do nosso coração: a pessoa amada.
Os dias demoram a passar. Nossos Hobbies já não têm graça. Nossos erros e
teimosias nos fazem sentir a consciência pesar: “foi por causa dessas besteiras
que a perdi?”. Ah, se arrependimento matasse... o pior é que não mata.
A nossa emoção nos domina quase que por completo. Amigos e parentes
tentam nos ajudar. É impossível não ver a nossa dor. Para quem ainda não sabe o
que aconteceu poucas palavras bastam para compreenderem a razão de tal
sofrimento.
O pouco da razão que temos nos diz que precisamos continuar o nosso caminho.
Essa pessoa não é o motivo da nossa vida, não morreremos sem ela, mas sabemos
como tudo seria melhor se ela estivesse aqui. Por dentro estamos mortos, e um
corpo vazio é o que se vê em nosso semblante. Nossos planos, sonhos,
idealizações e realizações tinham o nome dela no projeto ou resultado. Nossa
inspiração para fazer tudo acontecer.
O tempo que era dela nós usamos agora para recalcular as coordenadas do
nosso destino. É preciso viver. É preciso saber que o ter é um dom divino e a
perda uma tragédia natural e inevitável.
Durante muito tempo nos pegamos chorando, como um dependente químico que
sente falta daquele prazer, daquele sonho, da nossa fuga da realidade. Entretanto,
chega o momento de nossa reabilitação, e nada como um banho de realidade para
começar: “sim, realmente foi muito bom enquanto durou, mas agora acabou, e a
vida continua”.
Não queremos e nem precisamos esquecer os momentos bons. Fazem parte da
nossa história. Ainda fazem parte de quem somos. Todavia, o passado não deve
ser o presente para que não percamos a chance de um futuro melhor. Ainda
existem pessoas que precisam de nós e querem nos ver bem, e por elas que vale apena
travar esta difícil batalha.
O tempo passa e percebemos que a vida tem muito mais a nos oferecer do
que imaginávamos. Novos amigos, novos momentos inesquecíveis. É quando o
passado fica onde deve estar e nos permitimos ser feliz. Conheceremos outras
pessoas, por quem iremos nos encantar novamente - desde que não coloquemos
obstáculos, é claro.
Teremos em nossa vida a marca da experiência e saberemos como fazer o
novo amor valer apena e prosperar. Não cometeremos os mesmos erros. A
felicidade voltara para casa, e chegaremos a acreditar que as nossas lágrimas,
os nossos erros, o nosso passado, serviram para nos preparar para quem
realmente merece o nosso amor.
Em algum tempo, estaremos rindo, lembrando-nos do quanto ficamos
desesperados e perdidos. Entenderemos, finalmente, que o destino prega peças
para amadurecermos e darmos valor a vida e por isso que quando tudo acaba, e
ela vai embora, nunca levará consigo o nosso amor em sua mala, pois é ele quem
nos ensinará a viver e sermos felizes, quiçá para todo sempre.
César Fonseca