quinta-feira, 5 de julho de 2012

Remissão



O homem, como animal que é, possui dentre os seus instintos o que eu gosto de chamar como o instinto da ciência.
Este instinto é figurado em desenhos e filmes como um anjo e um demônio, os quais diante de uma decisão argumentam em nosso subconsciente para que possamos decidir corretamente.
Podemos dizer, com outras palavras, que este instinto nada mais é que o bom senso. Ou seja, aquela pré-instrução do ser humano, a qual certos atos tornam-se óbvios e outros indiscutivelmente inviáveis, sem que alguém precise nos dizer.
A prova disso é que quanto mais inocência (não inocência no sentido de não conter culpa, mas inocência no sentido de livre de malícia/estado de boa fé) temos, menor será nossa capacidade de contra-argumentar ao instinto da ciência. Uma criança, por mais nova que seja, ao ser pega com a “mão na botija”, enrubesce. Algumas até mesmo chegam a chorar e ficar tristes por terem feito algo errado.
Quando mais velhos, nos acostumamos à cometer erros sem que nossa consciência acuse este erro. E aí que está o perigo. Corremos o risco de não percebê-los.
Todavia, haverá um momento que certos erros irão pesar em nossas vidas, e, nesse momento, a primeira palavra que deixamos sair de nossa boca é “desculpa”.
Desculpa é um pedido comum de um ofensor à um ofendido ou prejudicado para que lhe retire o peso da sua culpa. Lembrando que a culpa não é materialmente pesada ou mensurável. A culpa está ligada unicamente ao ato, sua gravidade; como também a pessoa ofendida, status social, proximidade entre ambos.
Assim sendo, podemos considerar que, se o perdão deve ser proporcional a ofensa cometida, quanto maior a culpa em sua gravidade, maior deverá ser a capacidade de perdoar da pessoa ofendida.
Como é bonita a remissão. Não é qualquer pessoa que possui esse belo potencial. É necessário mais do que uma palavra para que haja o perdão. Não é tão simples como dizer “Claro, está perdoado” , isso todos dizem, assim como muitos pedem remissão sem se julgar errados de fato.
A remissão é a capacidade de perdoar a um ofensor, considerando sua humanidade. Reconhecer que como ser imperfeito, o ofensor possui em si a margem de erro.
Isso não significa que o erro torna-se justificado, apenas significa que este pode ser considerado como compreensível.
Compreender é um árduo feito, pois, não é possível acontecer sem que se coloque no lugar do indivíduo a ser compreendido. Requer que abramos mão de nosso orgulho, de nossos incômodos, de nossos próprios julgamentos e preconceitos (ato de julgar antes de ter conhecimento, ou criar imagem de algo ou alguém pela aparência), nossas mais dolorosas misérias.
A dor de quem erra o leva a pedir o perdão. No entanto, a dor para remissão é tão maior, que torna o perdão uma beleza mal valorizada em nossos tempos.
Ouvir que está sendo perdoado à pouco se compara a sentir-se perdoado, cuja única fonte de transmissão é o sincero afeto de quem perdoa.
Não há como não admirar o perdão. Não tem como negar a nobreza, humanidade e sutileza da pessoa que consegue conceder a remissão.

2 comentários:

  1. Olá Cesar,
    eu vim aqui te parabenizar mais uma vez pelo seu texto, e você realmente me surpreende, seu texto está ótimo, e nos contempla o sentimento do perdão da melhor e mais sincera forma, conforme o nosso amadurecimento. Eu a cada dia te admiro mais e mais, vc é um ótimo escritor, aproveite mesmo esse dom. Vc também esta se tornando a cada dia uma pessoa melhor. Conte sempre comigo, sou sua amiga e sua maior fã.

    beijos
    Mari Matias

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    1. Obrigado Mari. Saiba que o sentimento é recíproco. Beijos!

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