domingo, 5 de janeiro de 2014

O Novo Poeta


Com a inspiração do sossego e as companhias da solidão e da lembrança de um profundo desejo, lia palavras e versos não escritos num papel ainda em branco, o qual refletia em seu rosto a luz de seu abajur.
Com sonhos de seu coração e as ideias de sua mente, agravados por ter o peito mergulhado num anseio por um amor verdadeiro, fez a tinta escorrer artisticamente dedicada, qual uma jovem dançarina à encantar a cada pequeno gesto, a cada momento de silêncio, a cada ponto que firmava sua atitude. 
Com a frieza calculista de um estrategista perverso, estudava cada palavra e momento na descrição de seu sentimento, temendo o quão forte poderia ser seu contra-ataque, mas admitindo que sua existência merecia ser encarada. 
Com um sorriso no canto do lábio e o brilho nos olhos, tão próprio de um homem apaixonado, lembrou-se de momentos não vividos, mas certo de que o aguardavam, como uma encomenda do destino, chamada consequência. 
Com três pingos de cera de uma vela rúbia selou o envelope que continha a chave para sua felicidade, e sabia que a porta seria aberta, pois ela já havia provado que o novo poeta já não chora ou lamenta, mas como fruto maduro, é seguro e persistente. 
Com uma gota a brotar no canto do olho direito e um calor intenso provindo de seu interior como se tivesse sido alimentada de um sol, ela leu e releu cada letra, palavra, espaço, verso, buscando viver e sentir cada instante descrito por seu amante não anônimo. 
Com poucas palavras para descrever tanta felicidade, ela mirou o céu e atirou agradecimentos por ter encontrado um homem que lhe ama como mulher, em cada um de seus sonhos, em cada esforço, em cada charme, a todo dia, por todo o sempre. 
Com pouco esforço e sofrimento, o novo poeta reinventou a poesia: outrora, dos donos do grande sofrer; hoje, daqueles que souberam viver. 


César Fonseca

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