Amor
em noite de inverno
Sinto
a temperatura amena do contraste entre o calor de tua presença e o frescor do
inverno.
Um
belo dia em que mergulhamos em risos e momentos de felicidade, enquanto o sol
nos aplaudia distante na plateia, trouxe-nos a esse quarto como duas pobres
vítimas de uma feroz alcateia de sentimentos. Nossos olhares dispensavam
palavras a serem ditas. Nossas mãos unidas demonstravam a tranquilidade que nos
unia e o nervosismo da presunção do que poderia se suceder. Teus lábios me recitavam
poesias, cantavam-me cantigas, enquanto tocavam aos meus. Teus gemidos de
prazer rompiam o silêncio mesmo sem o teu consentimento. Entendiam que para mim
tua sinceridade faria soar campainhas alertando meu corpo a corresponder. Eu te
sentia presa a mim como se fortes correntes nos
entrelaçassem.
Ao
se aproximar ainda mais, senti seu corpo unir-se ao meu, e confesso que minha
consciência desapareceu, quando senti nossos corações no mesmo ritmo bater.
Era como se um único coração habitasse nossos corpos.
Nossos
movimentos, agora já intensos, pareciam seguir um roteiro pré-determinado, de
toques e passos, que teriam o mesmo destino. Como um menino, vi-me maravilhado,
seguindo a cada instante o acaso, desejando-o sem titubear, apaixonado pelo
perigo.
Tua
beleza me encantava, mas eu já não te via, a noite já caíra e só sua alma eu
podia ver. No entanto, era tudo o que eu queria. Por todo o mundo eu te
procurei, e a Deus agradeço porque te encontrei. Não se tratava de cabelos loiros
ou morenos, olhos claros ou olhos negros, muito menos seu tom de pele, pois era
seu amor e carinho que sempre pedia em minhas preces.
Entretanto,
quando as nuvens abriram fresta e um clarão entrou pela janela, deslumbrei-me
com o que ela veio me presentear: eram aqueles olhos apaixonados que fixamente
me olhavam, enquanto tuas mãos a meu rosto acariciavam, domando-me qual
selvagem fera, envolto por sua meiga serenidade, seu charmoso carinho, esse seu
lindo jeitinho de me dar seu amor.
Inevitável
beijo, molhado aos lábios, empírico ao coração. Forte e gélido arrepio, emocionante
adrenalina da pacífica e devastadora paixão.
Abri
os olhos sem poder evitar um sorriso, não fora um sonho, ao meu lado eu ainda
te via dormindo, e te olhando relembrei cada instante. Fora uma noite longa, e
enquanto te vi descansar, pude perceber o verdadeiro sentido de amar, e o
quanto este será eterno desde que um ao outro sempre saiba valorizar.
César Fonseca
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